FONOLÓGICO



A fonologia é o ramo da linguística que estuda o sistema sonoro de um idioma, ou seja estuda os sons.
Segundo Barbeiro (2000), cada língua serve-se de um determinado conjunto de sons para construir o seu sistema fonológico. Assim, a criança tem como tarefa conhecer, do ponto de vista percetivo e produtivo, os sons que são utilizados no sistema fonológico da sua língua (p. 119). 

A aquisição da linguagem passa pela capacidade em discriminar a nível auditivo os sons da fala. Ainda na barriga da mãe e logo após o nascimento, a criança já ouve diversos sons. Porém, embora a discriminação auditiva dos sons da fala não seja imediata após o nascimento, esta tem um desenvolvimento bastante rápido. (Barbeiro, 2000, p. 120)

Segundo Barbeiro (2000), o sistema fonológico de uma língua é composto por um determinado conjunto de sons. Assim sendo, para falar, a criança vai ter de "conhecer, do ponto de vista percetivo e produtivo, os sons que são utilizados no sistema fonológico da sua língua" (p. 119).

Deste modo, no início do período linguístico (por volta dos 9/12 meses):

A nível percetivo: a criança já demonstra alguma "compreensão do significado de algumas palavras em contexto" (Barbeiro, 2000, p. 121).

                             Exemplo: "Onde está a mãe?" - A criança vira-se na direção da mãe.

Segundo Barbeiro (2000), a este nível a criança já faz uma discriminação das caraterísticas fonológicas da sua língua mãe. Os sons que não pertencem à fala do ambiente da criança perdem-se (Lima, 2000, p. 83). O aumento de vocabulário reconhecido comprova a evolução dessa discriminação. Por exemplo, no final do segundo ano, a criança já reconhece em média, quinhentas palavras. O desenvolvimento da discriminação está em geral completado aos três anos (p. 121).

A nível produtivo: a produção de sons já ocorre no período pré-linguístico. No entanto, em período linguístico existe uma evolução na capacidade de falar relacionada com o domínio mais ou menos rápido de certos sons. Esta capacidade relaciona-se com o "grau de facilidade / dificuldade articulatória" dos sons. Lima (2000) refere-se a este processo como sendo "um percurso de ensaios articulatórios" (p. 83).

Verifica-se a seguinte sequência de aquisições do sistema fonológico, ou seja, a sequência de aquisição e produção de sons:

1º som correspondente à vogal /a/ e à consoante /p/
2º O domínio das caraterísticas articulatórias vai complexificar a aquisição de novos sons: /t/
3º Depois vem o /i/, /k/, /u/
A partir daqui, vai se construir o sistema fonológico de uma língua particular (Barbeiro, 2000, p. 123).

Segundo Lima (2000), relativamente à construção fonológica, vários estudos procuraram saber se existe uma "ordem universal para a aprendizagem fonemática" (p.85). As conclusões são de que não se pode afirmar a existência de uma ordem universal na medida em que os fonemas surgem de forma diferente em cada língua existente.

Em geral, por volta dos 4-5 anos, a criança domina o sistema fonológico da sua língua materna. No entanto, podem persistir ainda algumas dificuldades de articulação de certos sons, por isso é que algumas crianças ainda produzem palavras diferentes em relação aos adultos.

                          Exemplo: "dromir" em vez de "dormir", "ito" em vez de "isto"...

Assim, segundo Sim-Sim, Silva, Nunes (2008) e Rombert (2013, p. 60-61) as crianças têm o seguinte desenvolvimento fonológico:


IDADE
MARCOS E ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO FONOLÓGICO
12 meses
A criança produz alguns fonemas.
Usa todas as vogais, sílabas "pa, ba, ma, ta, da, na", palavras como bebé, popó...
Não produz consoantes finais (ve em vez de ver)
Emite os sons dos animais (miau, piu piu...) 
18 meses
A quantidade de fonemas produzidos pela criança é maior;

Usa sílabas para dizer palavras (pa em vez de pato...)
A criança já consegue produzir variações entoacionais.
2/3 anos
A criança produz muitos fonemas;

Suprime o fonema inicial (ão em vez de cão), final (doi em vez de dois), mais de uma sílaba (neca em vez de boneca), ou reduz osditongos (caxa em vaz de caixa).
Faz substituição de fonemas (manana em vez de banana, tapato em vez de sapato).
É sensível à sílaba e à palavra ("dois bigos" em vez de "dois umbigos").
50% do que diz a criança deve ser compreendido por terceiros.
A criança já tem um melhor controlo do volume, ritmo e intensidade da voz;

A criança já reconhece todos os sons da língua materna.
3-4 anos
Pode suprimir uma sílaba dentro da palavra (cana em vez de cabana ou uma consoante final (pinta em vez de pintar).
Inicia as rimas.
75% do que diz a criança deve ser compreendido por terceiros
4/5 anos
A criança possui um completo domínio articulatório
Usa com frequência palavras longas, com mais de três sílabas.
Pode substituir “palhaço” por  “paiaço”, “limão” por “uimão”, “colher” por “coler”,
 100% do que diz a criança deve ser compreendido por terceiros mesmo que ainda persista alguns erros.
5-6 anos
Pode suprimir o “r” nos grupos ou trocar a ordem: buxa em vez de bruxa, trige em vez de tigre, corcodilo em vez de crocodilo, dromir em vez de dormir…
Pode adicionar uma vogal: felor em vez de flor.
+ de 6 anos
É capaz de dividir as palavras em fonemas: pato em p-a-t-o.
Podem ainda existir dificuldades em articular palavras novas ou desconhecidas.
                                                                                                                                                      
 
Quando de falamos de fonologia é inevitável falar de consciência fonológia.
Mas a que nos referimos quando falamos de consciência fonológica?
Segundo Freitas, Alves e Costa (2007), quando falamos de consciência fonológica "referimo-nos à capacidade de explicitamente identificar e manipular as unidades do oral. Se pensarmos na unidade palavra, a capacidade que a criança tem de a isolar num contínuo de fala e a capacidade que tem de identificar unidades fonológicas no seu interior é entendida como expressão da sua consciência fonológica."
Ou seja, segundo Rombert (2013), refere-se à capacidade da criança em ter consciência de que a "linguagem falada pode ser segmentada em várias unidades, isto é a frase em palavras, as palavras em sílabas, as sílabas em fonemas. E por outro lado terá consciência que essas unidades repetem-se em diversas palavras" (p.220). A consciência fonológica é fulcral para o domínio da leitura e da escrita.



Fonte bibliográfica:
Barbeiro, L. (2000). Com a linguagem do lado dos sons. Leiria: Legenda.
Lima, R. (2000) Linguagem Infantil: Da normalidade à Patologia. Braga: Edições APPACOM
Rombert, J. (2013). O gato comeu-te a língua?. Lisboa: A Esfera dos Livros
Sim-Sim, I, Silva, A.C, Nunes, C., Linguagem e Comunicação no Jardim-de-Infância, Ministério da Educação, Direção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular, Lisboa 2008


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