PRAGMÁTICA




   Segundo Haberland e Mey (1977,p.1), a pragmática é a ciência do uso da linguagem nos contextos sociais. É segundo Rombert (2013), "a linguagem que usamos socialmente para comunicar e para nos relacionarmos com os outros" (p. 66) e a pragmática é usada de várias formas quando pretendemos comunicar algo ( uso de entoação, gestos, melodia, pedimos esclarecimentos). Deste modo, a pragmática pode ser expressa como o uso da linguagem na comunicação, isto é: ao igualar uso com uso comunicativo, identifica-se a teoria do uso (pragmática) com uma explicação da inter-relação existente entre a linguagem e a situação comunicativa em que esta é tipicamente empregada, ou seja, se pretendemos pedir ou informar algo, se estamos a falar com uma criança ou com um adulto... todos os contextos determinam a forma como se usa a pragmática. 
   Na perspetiva pragmática, a linguagem é definida em termos de ação, isto é, como uma atividade em que as palavras são ferramentas de um agente na realização das suas intenções. Deste modo, os usos linguísticos constituem sempre "ações propositais", cujas regras de emprego são moldadas de acordo com a multiplicidade de experiências históricas, sociais e culturais que caraterizam cada comunidade de falantes.
   
Apesar de não existir uma definição única da pragmática e de tudo o que a envolve, pois é uma área bastante ampla e variada, a definição de Bates (1974) resume-se a três aspetos principais do desenvolvimento da pragmática, que são os seguintes:
  1. O desenvolvimento das funções comunicativas, isto é, a forma como as crianças são capazes de expressar uma variedade de expressões.
  2. A resposta da criança para a comunicação, isto é, a forma como a criança responde e percebe a comunicação.
  3. A forma como a criança coopera na interação e conversação. 
Ao ter em conta uma perspetiva funcional sobre a linguagem, foram realizados vários estudos sobre a aquisição e desenvolvimento das funções comunicativas, que se referem aos objetivos e metas que o emissor pretende atingir ao comunicar com o ouvinte. Neste sentido, a investigação de Haliday contribuiu para compreender a estruturação da linguagem na criança no período pré-linguístico entre os 9 e os 18 meses, então propôs seis tipos de funções da linguagem:
  • Função instrumental: que se observa quando a criança utiliza a linguagem para satisfazer as suas necessidades materiais. O foco da criança é o objeto.
  • Função reguladora: a linguagem é usada para controlar o comportamento do outro, a linguagem dirige-se a alguém especificamente.
  • Função interativa: a linguagem é utilizada para interagir com as pessoas que convivem com a criança.
  • Função pessoal: esta função linguística é usada para transmitir sentimentos pessoais relativos ás pessoas ou ao ambiente, representados através de vocalizações associadas a gestos que representam prazer, contrariedade. 
  • Função heurística: a linguagem é utilizada para explorar o ambiente no sentido de procurar o nome de objetos e ações. Nesta fase a criança apresenta expressões muito próximas ao padrão articulatório do adulto.
  • Função imaginativa: é através desta função que a criança cria o seu próprio mundo. Numa fase inicial pode ser apenas um mundo de sons, no entanto, gradualmente, este mundo próprio constitui-se de relatos de histórias e fantasias.  
 Bates et al., classificam as funções comunicativas em dois tipos: 
  • protodeclarativos- referem-se às atitudes da criança em dirigir a atenção do adulto para algum objeto ou acontecimento ou para chamar à atenção do adulto para si;
  • protoimperativos- são comportamentos que têm o objetivo de fazer com que o adulto realize alguma ação.
À medida que o desenvolvimento cognitivo e linguístico da criança progride esta adquire uma riqueza de conhecimentos e habilidades nos usos sócio- comunicativos da linguagem. Alguns especialistas estudaram o desenvolvimento de diferentes comportamentos a nível pragmático, como o dialogo e o discurso. Um dos aspetos importantes do dialogo são os turnos de intervenção. Estes implicam que se conheça o momento de nos expressarmos verbal e não-verbalmente, de escutar e olhar.

Segundo Sim-Sim, Silva, Nunes (2008) e Rombert (2013, pp.67-68), estes são os marcos /etapas do desenvolvimento pragmático na criança:

IDADE
MARCOS E ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO PRAGMÁTICO
12 meses
A criança faz produções vocálicas no intuito de fazer pedidos, dar ordens, perguntar, negar e exclamar.
Brinca ao "cu-cu"
Tem atenção conjunta com outra pessoa.
Dá significado aos acontecimentos que vive: hora do banho, da alimentação...
18 meses
A criança faz uso de palavras e embriões de frase no intuito de fazer pedidos, dar ordens, perguntar, negar e exclamar.
Usa o contacto ocular, a fala, repetição de palavras que ouviu para comunicar com os outros.
Sorri quando está contente.
Expressa com uma mesma palavra diversos significados.
Pede informação e responde a perguntas.
Faz diferentes variações de entoação.
Faz jogo simbólico: "fala ao telefone" "dá comida ao bebé".
2/3 anos
A criança faz o uso de frases para realizar muitos atos de fala nomeadamente pedidos, ordens, perguntas, chantagens.
Usa palavras para agradecer e outras de cortesia: obrigado, se faz favor...
Pede ajuda e faz perguntas quando não percebe.
Canta músicas familiares com os adultos.
4/5 anos
Há uma melhoria na eficácia das interações conversacionais da criança (formas de delicadeza e de subtileza).
Capacidade em negociar num jogo com outras crianças.
Desenvolve a habilidade para pedir algo de forma indireta.
Cria jogos imaginários.
Percebe segundos sentidos.
Fala dos seus sentimentos.
Faz perguntas sobre uma história.
Mantém o tópico de uma conversa.
Responde a questões do tipo "Como aconteceu?"
Repete rimas e canções. 
A partir dos 5 até aos 7 anos: 
Fala sobre assuntos e acontecimentos adequados ao contexto.
Conta piadas ou anedotas simples.
Toma consciência dos erros nos discursos dos outros. 
Até à puberdade
A criança já possui o domínio das regras pragmáticas do(s) ambiente(s) onde convive.
Desenvolve as competências de comunicar: toma e espera a vez numa conversa, inicia, mantem e modifica o tema da conversa.
Faz um maior uso de gestos, das expressões faciais e entoações.
Respeita a opinião e o espaço do outro num diálogo. 

Rombert (2013, p. 68) refere ainda que a pragmática também tem a ver com a forma de interação no seio familiar. Somos todos diferentes na forma como comunicamos uns com os outros pelo facto de termos experiências e aprendizagens pessoais diferenciadas. Como tal, é necessário ter em conta que as independentemente deste quadro referir o desenvolvimento pragmático por faixas etárias, não é geral, cada criança adquire esses conceitos de forma pessoal e ao seu ritmo.


Fontes:

Acuña, Ximena, Sentis, Franklin. Desarrollo Paragmático en el habla infantil. Pontificia Universidad Católica de Chile 
Rombert, J.(2013). O gato comeu-te a língua?. Lisboa: A Esfera dos Livros.
Oliveira, Jair. Comunicação e educação: uma perspetiva pragmática.
Sim-Sim, I, Silva, A.C, Nunes, C., Linguagem e Comunicação no Jardim-de-Infância, Ministério da Educação, Direção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular, Lisboa 2008

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